

Em um RH com papel cada vez mais estratégico, é preciso promover um ambiente de empatia, entendimento e atenção aos funcionários. Por Marcelo Furtado, CEO e cofundador da Convenia.
O profissional de RH tem alcançado um papel cada vez mais estratégico. Ele não é mais um gestor de processos e rotinas, e sim um facilitador da experiência que cada colaborador tem com a empresa. E essa mudança de posicionamento tem transformado a gestão de pessoas positivamente. Quanto mais o RH foca em definir e atender processos e rotinas, mais ele “mecaniza” o relacionamento com os colaboradores. Essa é uma visão típica da Era Industrial, em que as pessoas eram engrenagens em um grande mecanismo que desenvolvia produtos – lembra de Charlie Chaplin no clássico “Tempos Modernos”? Para lidar com pessoas no século 21 é preciso promover um ambiente de empatia, entendimento e solidariedade.
As melhores empresas para trabalhar são organizações que funcionam como times – e aqui vale usar exemplos dos esportes. Nem sempre a equipe com as pessoas mais talentosas vencerá – é preciso ter objetivos em comum, metas claras e a disposição de lutar uns pelos outros. Em um time, todo mundo alcança o resultado junto. Para que isso aconteça, a organização precisa estar atenta ao bem-estar de seus colaboradores, tanto do ponto de vista emocional quanto mental. Antes de seguir, vamos diferenciar dois termos:
Saúde emocional: está relacionada à relação com as pessoas e à autoestima. O bem-estar emocional tem a ver com a capacidade de lidar com pensamentos e emoções;
Saúde mental: está relacionada a uma série de reações químicas, fisiológicas e neurológicas que vão muito além do “sentir-se bem”. Felizmente, a saúde mental vem tendo sua importância reconhecida – a ponto do burnout ser considerado uma doença ocupacional a partir deste ano.
O fato é que a saúde e o bem-estar emocional e mental são vistos, cada vez mais, como aspectos tão importantes para o desempenho dos profissionais quanto o conhecimento técnico, a construção de um bom ambiente de trabalho ou um programa de benefícios. Para as empresas que entendem a seriedade desses fatores, fica claro que estamos indo muito além de gerar motivação ou de criar fortes marcas empregadoras. O relacionamento entre empresa e colaborador é uma parceria, em que é preciso cuidar de tudo o que possa gerar benefícios e diferenciais competitivos.
Saúde mental e emocional: cada vez mais importante
Segundo um estudo publicado pela Harvard Business Review, 200 milhões de dias de trabalho são perdidos todos os anos, gerando um prejuízo de US$16,8 bilhões para as empresas, simplesmente porque 60% dos funcionários nunca falaram sobre seu estado de saúde mental com ninguém no trabalho. Essa falta de comunicação acontece pois os problemas ligados à saúde mental e emocional ainda são tratados como tabu dentro das organizações. Assuntos delicados como saúde mental e emocional devem ser vistos no RH com cuidado e de maneira ativa, já que os colaboradores se fecham nesses momentos.
Isso se tornou ainda mais importante durante a pandemia, uma vez que o isolamento social fez com que o índice de problemas emocionais aumentasse de forma significativa. Segundo o estudo “Depression and Anxiety among essential workers from Brazil and Spain during the Covid-19 Pandemic: a websurvey”, publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), os sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% dos profissionais e 30,9% foram diagnosticados com doenças mentais. Grande parte dos profissionais não conseguiu se adaptar ao trabalho em home office – passar todo o dia em um mesmo lugar ou precisar conviver com as atividades domésticas, o cuidado com as crianças e a insegurança de não saber como seria o desenvolvimento da pandemia gerou ansiedade e preocupação.
E no pós-pandemia?
Com a flexibilização do trabalho e a oportunidade de desenvolver modelos híbridos, passa a ser possível estruturar mais ações de promoção do bem-estar e saúde dos profissionais. E, por paradoxal que possa parecer, o uso de dados pode se tornar uma ferramenta muito importante para promover mais empatia. O natural é pensarmos na empatia e no relacionamento como algo que depende 100% do contato pessoal, do “olho no olho”. Mas é justamente por pensar assim que as empresas têm dificuldade em construir ambientes favoráveis.
Na realidade, todo contato – de um formulário de pesquisa a um evento presencial, passando por e-mails, videoconferências e o famoso cafezinho na cozinha – é uma oportunidade de construir a cultura e acolher os profissionais. Toda empresa precisa estar preparada para desenvolver um ambiente interno que inspire confiança e promova benefícios para os colaboradores. Com base nisto, há 4 caminhos importantes para gerar um ciclo positivo que traga mais empatia e reconheça as necessidades das equipes, ao mesmo tempo em que criam um senso de comunidade e um espírito de time: