De uma piada do cotidiano, virou uma metáfora. Um médico neurocirurgião e um mecânico. Eu sou fã da neurocirurgia, aliás, era meu sonho de infância.
O doutor, após perceber que algo estranho estava acontecendo com o motor de seu carro, segue para a oficina mais próxima de sua rota e é recebido pelo mecânico. Diga-se, um mecânico de bom humor, alto astral, aparentemente tudo em ordem com as suas emoções básicas e entra em uma batalha por meio do diálogo com o neurocirurgião. A intenção era apenas praticar, ali, a empatia com alegria e bom humor. E começa….
– Doutor, você, como neurocirurgião, opera a cabeça das pessoas e se olhar direitinho nós fazemos a mesma coisa. Eu também opero o cérebro de um carro, sou especialista nisso. Se seu carro tivesse com algum outro problema, os meus meninos, que eu treinei todos, iriam resolver, sobre a minha supervisão, mas como o problema no seu carro é no cérebro, quero dizer no motor, é comigo. Eu sou o cirurgião. Doutor, no cérebro tem corrente elétrica?
O médico responde que sim e podemos até acender uma lâmpada de 5 watts
– Então – diz o mecânico -, doutor, seu carro também é assim. Doutor, no cérebro tem alguma eletrônica?
– Sim – diz o médico – e a voltagem é 9 volts.
– Sério doutor – retoma o mecânico. Seu carro também. O doutor entende porque nós fazemos a mesma coisa? O senhor faz exames preliminares, eu também. Daqui a pouco farei um ultrassom de seu carro e, com o resultado, analisarei com a maior calma e responsabilidade os dados
O médico atentamente ouve e com bom humor degusta aquele momento e lança uma pergunta ao mecânico.
– O que diferencia nós dois?
O mecânico no primeiro instante sente-se desafiado, mas logo interage, e diz:
– O doutor estudou mais do que eu.
E o doutor diz:
– Será? Eu vejo que você fala com tanto domínio sobre o seu trabalho e lhe pergunto: desde quando você trabalha com mecânica?
– Doutor – responde o mecânico -, trabalho desde os meus nove anos e já passei dos 50 anos de idade e me divirto com a minha atividade profissional.
O cirurgião diz:
– Você está vendo? Você estudou muito mais tempo do que eu e ter prática de mais de 40 anos o torna muito mais competente do que eu, porque eu estudei bem menos, assim, divididos: sete anos de faculdade, dois anos em especialização cirúrgica e mais três anos de residência médica. Isso soma pouco mais 12 anos de estudo, mas minha pergunta tem outra resposta. O que nos diferencia em nossa atividade profissional: eu faço cirurgia no cérebro e, às vezes, preciso fazer em partes, ou seja, primeiro preciso abrir caminho, que pode ser feito em duas ou três vezes, até poder chegar no meu ponto-alvo, para ali poder atingir o objetivo daquela cirurgia. Você “opera”, como você mesmo diz, o motor do carro e que muitas vezes precisa desmontar quase todo para você também atingir seu objetivo. Até internação se faz necessária ser às vezes.
O mecânico ficou sem saber responder o que o doutor esperava, e aí o médico arrebenta na resposta:
– O que nos diferencia em nossa atividade profissional é que eu preciso e faço todo o procedimento com o motor ligado.
Nós somos seres únicos e inacabados e aprendemos todos os dias. Estamos o tempo todo com o motor ligado. Nos traumas de nossa infância, o motor estava ligado. Nos medos do dia a dia, o motor está ligado.
Os transtornos e distúrbios, todos eles instalados e sentido sempre com o motor ligado. As mudanças de hábitos, todas acontecem com o motor ligado. As experiências que experimentamos em nosso dia a dia, todas acontecem com o motor ligado. No seu próximo processo terapêutico, querendo ou não, tudo vai acontecer com o motor ligado.
Em nosso próximo encontro vamos falar sobre as cinco emoções básicas: alegria, tristeza, medo, raiva e nojo. Até lá e vai dar tudo certo. E com o motor ligado!